Queremos, primeiramente, agradecer à articulista Cleomar Borges de Oliveira, que neste conceituado Órgão de Imprensa Espírita (“Nova Era”, de Franca, SP), de novembro de 2001, teceu comentários sobre o livro de nossa modesta autoria, cujo título encabeça esta matéria. Agradeço também ao meu amigo, o Professor Psicobiofísico Henrique Rodrigues, que me deu esse Periódico, que considero de alto nível.
O nosso objetivo não é polemizar com a nobre jornalista, mas tão-somente esclarecer algumas questões que nos parecem interessantes para os leitores do jornal “A Nova Era”.
O livro “A Reencarnação Segundo a Bíblia e a ciência” é uma tese sobre a reencarnação, do ponto de vista bíblico e científico. Dizendo em outros termos, o autor apenas se propôs a defender a Teoria da Reencarnação para os católicos e evangélicos, e não para os espíritas que já a aceitam normalmente. Para isso valeu-se desses dois pilares respeitados, a Bíblia e a Ciência. Assim, o livro “sub examine” pontifica por uma verdade espírita, a reencarnação, e não por todas as verdades espíritas, mesmo porque, quando o escreveu o seu autor ainda não era espírita, embora já tivesse pela Doutrina Kardecista uma simpatia toda especial. Também Jesus e Kardec não disseram tudo.
E, quando o autor recorre a outras correntes filosóficas religiosas reencarnacionistas, principalmente orientais, o objetivo do autor foi mostrar a universalidade da Doutrina Reencarnacionista, e jamais pensou em subordinar o Pensamento Kardequiano àquelas correntes filosóficas religiosas, embora elas sejam anteriores ao Kardecismo, o que deve ter levado a ilustre Articulista a interpretar de modo diverso o pensamento do autor.
Sobre o termo Neo-Espiritismo, de fato se trata de um vocábulo impróprio, não obstante ele circular entre alguns autores incipientes na Doutrina Espírita, como o era o autor, quando prescreveu essa obra, e como, aliás, ele ainda assim se considera. Mas, a partir da 4ª edição dela – ele está na 6ª -, essa falha já foi retificada.
Quanto ao fato de o autor ser católico e reencarnacionista, e mesmo de ser católico e espírita, trata-se de uma coisa muito simples, embora pareça contraditória. Simplesmente ele é um católico herege, isto é, não aceita todos os dogmas da Igreja. Para não ser um católico desse gênero, deveria aceitá-los todos. Mas os dogmas da Igreja – diga-se de passagem – estão caindo num esvaziamento muito grande, inclusive entre os próprios teólogos.
Isto porque eles foram instituídos em épocas remotas pelos Concílios, quando a mentalidade da Humanidade era outra, além de terem sido não só expostos aos cristãos, mas impostos. E, assim, se algumas pessoas mais inteligentes e mais cultas repeliam-nos, naqueles tempos longínquos, iam para a fogueira.
Mas, hoje, não temos mais fogueiras inquisitoriais, e a mentalidade do homem do Século XXI mudou. Por outro lado, também, nem todo católico herege é necessariamente um desafiador da Igreja, e muito menos, um inimigo dela.
Além do mais, muitas heresias de hoje, como alguns fatos da Igreja o demonstram, serão verdades da Ortodoxia Católica de amanhã. João Huss, por exemplo, morreu na fogueira, porque era contra a interrupção da comunhão sob as duas espécies de pão e vinho. E hoje a Igreja voltou a essa prática em muitas igrejas, dependendo da determinação do vigário. E a tudo isso se junte a afirmação do Apóstolo Paulo de que as heresias são necessárias. E Jesus era um judeu, sim, mas um judeu herege. Por isso os sacerdotes passaram a odiá-Lo, e acabaram tramando a sua morte na Cruz.
Há uma frase muito conhecida nos meios espíritas: “O Espiritismo é o Cristianismo redivivo”. Mas trata-se do Cristianismo Primitivo, e não deste de nossos dias, e muito menos do da Idade Média. E o Cristianismo Primitivo aceitava a reencarnação, já que os expoentes da Teologia Cristã, entre eles São Clemente de Alexandria, Orígenes, São Gregório Nasiazeno e o Papa São Gregório Magno, eram adeptos da reencarnação.
Por isso, quando o autor se diz católico espírita, hoje, ele considera-se um adepto daquele Cristianismo Primitivo ainda não adulterado por dogmas instituídos pelos teólogos nos Concílios, ao longo da História do Cristianismo, principalmente os de Nicéia de 325 e 383.
E, segundo as estatísticas, a metade dos católicos do Brasil é espírita, frequentando os centros, e lendo a Literatura Espírita. E outras estatísticas mostram também que cerca de 70% dos católicos creem na reencarnação.
O autor considera-se incluído nessas estatísticas, embora saiba que o Espiritismo propriamente dito não tem rituais, cerimônias nem Sacramentos.
Mas a Doutrina Espírita não possui preconceito contra religião nenhuma. E na sua trilogia de ser Ciência, Filosofia e Religião, arrasta adeptos de outras religiões, principalmente por influência desse seu aspecto religioso.
E é oportuno que nos lembremos aqui de que Bezerra de Menezes teve como sendo suas últimas palavras uma piedosa oração feita a Maria Santíssima, como ele a chamava. Também Luiz Sayão desencarnou-se louvando-a com especial devoção.
E queremos deixar claro aqui que o Espiritismo é incompatível com o Catolicismo do ponto de vista dogmático, e não, bíblico.
Destarte, o que se diz católico espírita, como vimos acima, é um católico herege. Mas não é o que preconiza a Doutrina Kardecista, quando afirma que o Espiritismo não é a religião do futuro, mas o futuro de toda religião?
E, realmente, é o que está acontecendo. Enquanto que o Espiritismo não se proclama como sendo a verdadeira religião – a única que salva -, ele está infiltrando-se entre os adeptos de outras religiões. E a Igreja Católica, na prática, muito discretamente, mas a passos firmes, vem aceitando as verdades
espíritas. E uma delas é a sua afirmação de que quem disser que só ela salva, está errado, pois que todos se salvarão. E, por ser a maior religião do Brasil, possui o maior número de adeptos com um pé nela e outro no Espiritismo. E seu conceito de inferno, também, hoje, é espírita, pois ela diz que se trata de um estado de consciência, como o ensina o Espiritismo.
O autor do livro em apreço trabalha no sentido de levar para os nossos irmãos católicos as verdades espíritas, ao invés de abandonar a Igreja, pois para ele é preferível a busca da unidade à da separação, que já prejudicou demais a Humanidade em sua caminhada para a perfeição, considerando justamente como sendo um dos maiores obstáculos para essa nossa jornada espiritual evolutiva o fundamentalismo religioso, de qualquer que seja a religião.
Muita paz para todos nós espíritas e não espíritas.
Belo Horizonte, 21-11-2001.
José Reis Chaves, autor dos livros, entre outros, além do em análise, “A Face Oculta das Religiões” e “Quando Chega a Verdade”, Editora Martin Claret,São
Paulo,SP.