O Moderno Espiritualismo Anglo-Saxão foi um movimento integrado, especificadamente pela Inglaterra e pelos Estados Unidos, tal denominação surgiu para caracterizar o moderno espiritualismo desenvolvido em boa parte dos países de língua inglesa, que possuíam um sistema de crenças mais amplo do Moderno Espiritualismo. Este último é caracterizado pelo conjunto de manifestações das entidades incorpóreas que espalharam-se pelo mundo por volta do século XIX, a continuidade destas manifestações ocasionaram no surgimento de diversos sistemas filosóficos, dentre eles é possível citar o Espiritismo (ou Doutrina Espírita) que teve como codificador o pedagogo francês Hippolyte León Denizard Rivail (conhecido pelo seu pseudônimo Allan Kardec), e o Moderno Espiritualismo Anglo-Saxão que teve origem nos países de língua inglesa.
Nos Estados Unidos, desde os primórdios de seu aparecimento, o Espiritismo tem sido mais comumente denominado sinônimo de Moderno Espiritualismo, em face da introdução de um caráter científico-filosófico-religioso novo nas ideias já existentes do espiritualismo, contudo algumas ideias fundamentadas pelos "modernos espiritualistas anglo-saxões" distinguem dos ideais espiritas, embora ambos tenham surgido no mesmo século.
No mundo anglófono, é bastante conhecida a divergência entre o que se convencionou chamar de "Espiritismo Latino" e "Espiritismo Anglo-Saxão" (este último, particularmente, era integrado pelos ingleses e estadunidenses), essa divisão do termo Espiritismo surgiu como consequência do número de pessoas que passaram a utilizar a denominação de "espíritas", ambos apresentavam diferenças em relação a reencarnação. Entretanto, na França, o "Espiritismo Anglo-Saxão" é comumente chamado de —Moderno Espiritualismo Anglo-Saxão— (em francês: Spiritualisme Moderne Anglo-Saxon), essa substituição encontra respaldo na realidade, visto que, o Espiritismo foi um termo cunhado por Allan Kardec e baseado em cinco obras básicas, nas quais a ideia reencarnacionista está presente. Enquanto que, o Moderno Espiritualismo, especifica o conjunto de manifestações mediúnicas que se difundiram por volta do século XIX, mas em alguns casos, tais manifestações tinham identidade e conceitos próprios. Esta foi a causa para o surgimento da designação Moderno Espiritualismo Anglo-Saxão. A palavra composta "Anglo-Saxão" foi adicionada para especificar certas crenças adotadas pelos modernos espiritualistas dos países de língua inglesa.
A obra publicada pelo Sir Arthur Conan Doyle, intitulada —A História do Espiritualismo — De Swedenborg ao início do século XX— (em inglês: The History of Spiritualism), é a mais completa resenha de fatos psíquicos da literatura mundial, em se considerando o período por ela abrangido: de Swedenborg — o grande vidente sueco do século XVIII — ao final do primeiro quartel do século XX, quando Conan Doyle publica sua primeira edição em língua inglesa, no ano de 1926. Nesta obra o autor adéqua a seguinte distinção entre o movimento espiritualista desenvolvido na França (Filosofia Espiritualista - Espiritismo ou Doutrina Espírita) em relação ao moderno espiritualismo desenvolvido em boa parte dos países de língua inglesa (Moderno Espiritualismo Anglo-Saxão).
“ ...O Espiritualismo na França e entre os povos latinos segue Allan Kardec, que prefere usar o termo Espiritismo, sendo seu principal aspecto a crença na reencarnação. ”
Com efeito, Allan Kardec criou o termo Espiritismo à vista da grande amplitude de conceitos do Moderno Espiritualismo. Conan Doyle, entretanto, neste livro, não trata do Espiritismo e sim do Espiritualismo dentro do período supracitado e especificando as divergências surgidas no movimento espiritualista do século XIX. Nada obstante, Conan Doyle, no capítulo 21 da mesma obra citada acima, diz que as igrejas da Grã-Bretanha se reuniam dentro de princípios mais amplos de crença, que ele sintetiza da seguinte forma:
“ ...Os espiritualistas da Inglaterra não têm decisão firmada sobre a reencarnação. Alguns a aceitam, muitos não. A atitude geral é no sentido de que, como se não pode provar a doutrina da reencarnação, é melhor excluí-la da política ativa do Espiritualismo. ”
Tal posicionamento se devia ao argumento de que nas pesquisas psíquicas, dificilmente os médiuns e cientistas ingleses, ou anglo-saxões de modo geral, obtinham dos Espíritos referências sobre a reencarnação. No capítulo 24 da mesma obra, Arthur Conan Doyle sintetiza os seguintes princípios presentes nas reuniões dos modernos espiritualistas britânicos, (p. 499-500):
1. A paternidade de Deus.
2. A fraternidade entre os homens.
3. A comunhão dos santos e o ministério dos anjos.
4. A sobrevivência humana à morte física.
5. A responsabilidade pessoal.
6. A compensação ou retribuição pela prática do bem ou do mal.
7. O progresso eterno acessível a todos.
Comparações com outras crenças
O Moderno Espiritualismo Anglo-Saxão emergiu num ambiente cristão e tem muitas caracterísitcas em comum com o Cristianismo: um sistema moral essencialmente cristão, uma crença percebida no Deus judaico-cristão, panenteísmo místico e práticas litúrgicas como serviços dominicais e canto de hinos. A razão principal para essas semelhanças é que os modernos espiritualistas anglo-saxões acreditam que alguns espíritos são "atrasados" ou brincalhões e se deliciam desviando os humanos do rumo. Assim sendo, desde Swedenborg, os crentes são aconselhados a hesitarem antes de seguir a orientação dos espíritos e geralmente desenvolveram suas crenças dentro de uma estrutura cristã.
No entanto, em pontos significativos, o cristianismo e o moderno espiritualismo anglo-saxão são bem diferentes. Os modernos espiritualistas, em geral, não acreditam que as ações desta vida levem ao destino eterno de cada alma seja no céu ou no inferno. Em vez disso, eles veem a vida após a morte como contendo muitas esferas arranjadas hierarquicamente, através das quais cada espírito pode ter sucesso em progredir. Os modernos espiritualistas também divergem dos cristãos quanto ao fato de a bíblia judaico-cristã não ser a fonte primária de seu conhecimento sobre Deus e a vida após a morte e sim os contatos pessoais que eles têm com os espíritos.
Os modernos espiritualistas sofreram feroz oposição dos líderes cristãos. Aqui um panfleto de 1865 associa o "Moderno Espiritualismo" à "Bruxaria" e culpa essa crença por induzir a Guerra Civil. O panfleto adiciona uma correta associação entre o Moderno Espiritualismo e o Abolicionismo.
Outras religiões além do cristianismo influenciaram o moderno espiritualismo anglo-saxão. As crenças animistas, com uma tradição de xamanismo, são obviamente similares e, nas primeiras décadas do moderno espiritualismo anglo-saxão, muitos médiuns alegaram ter feito contato com guias indígenas americanos em uma aparente confirmação dessas semelhanças. Ao contrário dos animistas, no entanto, os modernos espiritualistas, em geral, tendem a falar apenas com os espíritos de humanos mortos e não compartilham a crença nos espíritos de árvores, fontes e outras características da natureza.
O Hinduismo, apesar de ser um sistema de crenças extremamente heterogêneo, geralmente compartilha com o moderno espiritualismo a crença na separação da alma do corpo após a morte e na continuação da sua existência. No entanto, os Hindus diferem dos modernos espiritualistas anglo-saxões quanto ao fato de crerem geralmente na reencarnação, geralmente sustentando que todas as características da personalidade de uma pessoa se extinguem com a morte. Os modernos espiritualistas anglo-saxões, entretanto, sustentam que o espírito mantém a personalidade que ele tinha durante a sua (única) existência.
O Espiritismo, ramo do espiritualismo desenvolvido por Allan Kardec e predominante na maioria dos países latinos, sempre enfatizou a reencarnação. De acordo com Sir Arthur Conan Doyle, a maior parte dos modernos espiritualistas britânicos do começo do século vinte eram indiferentes à doutrina de reencarnação, com poucos a apoiando e uma minoria significativa lhe sendo veementemente a favor, os que contestavam o reencarnacionismo alegavam que tal conceito ainda não havia sido suficientemente demonstrado como real. Assim, de acordo com Conan Doyle, foi a tendência empírica do moderno espiritualismo anglofônico —seu esforço por desenvolver visões religiosas a partir da real observação dos fenômenos— que evitou que muitos espiritualistas daquele período adotassem a reencarnação (Doyle 1926: volume 2, 171-181). Segundo se pode concluir, no entanto, pela leitura das obras básicas do Espiritismo —a chamada Codificação Espírita— a afirmação de Conan Doyle não encontra respaldo na realidade, posto que toda a Doutrina Espírita foi escrita a partir de informações obtidas com os espíritos e como fruto da observação e do estudo dos fenômenos espíritas. Embora tenha nascido na Escócia, consequentemente, sendo de cidadania britânica, a intenção de Conan Doyle não foi contestar a reencarnação, pois mantinha sua convicção a favor, mas demostrar as dificuldades que os modernos espiritualistas anglo-saxões, especialmente ingleses e estadunidenses, encontravam em aceitar tal ideia. A propósito dos motivos da não adoção do princípio da reencarnação por muitos moderno-espiritualistas estadunidenses, Kardec escreveu um artigo na edição de maio de 1864 da sua Revista Espírita, intitulado "A Escola Espírita Americana".
O moderno espiritualismo anglo-saxão também difere de muitos movimentos ocultistas, como a Hermetic Order of the Golden Dawn (Ordem Hermética do Amanhecer Dourado) ou os clãs wiccans contemporâneos, cujos adeptos não se contactariam com espíritos para obterem "poderes mágicos" (com a única exceção de obter-se o poder de cura). Madame Blavatsky (1831-1891), da Sociedade Teosófica, por exemplo, somente praticava mediunidade de modo a contactar espíritos poderosos capazes de conferir conhecimento esotérico. Aparentemente, Blavatski não acreditava que tais espíritos fossem humanos mortos e de fato tinha crenças na reencarnação bastante diferentes das que tinha a maior parte dos modernos espiritualistas (Braude 2001).
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Moderno_Espiritualismo_Anglo-Sax%C3%A3o